sexta-feira, 29 de julho de 2011

Contos de Altamir #26

Ano dez – Grande Arena de Agni
Os portões da arena estavam abertos, mas a diferença de luz em relação à ante-sala impedia que eles pudessem ver alguma coisa no primeiro momento. Enric saiu e a multidão eufórica ovacionou, a arquibancada estava lotada. Logo atrás dele vieram Romeu Kurayuki e Lara Akuana seguidos não distante por Felipo Vuur. Levi ficou intrigado com a cena. Todos eles entravam ao mesmo tempo na arena, exceto um dos participantes da luta atual.

O Conselheiro estava sentado em um camarote eqüidistante às duas entradas, o mais confortável deles. Ao seu lado direito estava Akutenshi e quatro conselheiros, do sul e do norte, e a direita estavam os outros dois, da ilha central. Desde a divisão do território, essa foi a primeira ocasião em que os sete estavam presente.

Enric andou em passos largos até o meio da arena, quase arrastando o machado gigante que Lara havia lhe dado, e olhou para os Conselheiros. Os outros três que haviam entrado com ele na arena, ficaram perto da porta.

-Por um momento achei que todos resolveram lutar ao mesmo tempo! – disse Levi.

-Pra mim isso não seria um problema – respondeu Enric – mas já que temos que seguir suas regras...
Levi sorriu.

-Que comece então a segunda luta!
Enric olhou para o outro extremo na Arena. A porta se abriu lentamente e Agamenon Lumbre saiu. Trajando roupas simples de couro fervido e empunhando somente uma espada media de lamina clara, quase branca. O Alvo, como era chamado, tinha cabelo branco – desde a adolescência, quando foi iniciado em magia – liso e grosso, que chegava ao ombro, com uma expressão de seriedade e um rosto quadrado, ranzinza e com grandes jugulares.

-Acho que você deveria usar mais armaduras... – Enric sorriu enquanto esnobava a figura de seu adversário. Ele usava um manto preto e longo, como era de costume.
Pegou na parte inferior do manto e tirou-o pela cabeça num único gesto. Por baixo do manto usava apenas uma calça de linho e calçados de couro. Nada cobria o tronco, e no braço esquerdo, a antiga ferida era apenas um desenho. Um circulo místico com inscrições em malgo antigo (uma língua impronunciável para humanos), e um dragão vermelho no meio.

-Do que você está falando? Não está usando armadura nenhuma! – disse o outro.

-Não se engane, eu estou muito bem munido – sorriu para ele.
Agamenon correu em sua direção. Logo chegou e desferiu seus primeiros golpes. Com a espada tentou pelo flanco direito e pelo esquerdo, com golpes horizontais, sendo bloqueado pelo machado de Enric, empunhado na mão esquerda, ambas às vezes. Com um passo pra trás, Alvo tomou impulso para uma estocada, que foi defendida com a lateral do machado do outro. Enric não mostrava agilidade, nem muita técnica com a arma, mas os movimentos de seu corpo eram como os de um guerreiro experiente, que sugerem prever os golpes do adversário.

-Acho eu você deveria lutar de verdade. Desonra-me saber que não dará tudo de si nessa luta – disse Enric. O outro olhou intrigado – Conheço a técnica dos Lumbre, mas nunca lutei contra um realmente poderoso. Vamos... Dê tudo de si! – Agamenon sorriu.

-Se é o que você quer... – abaixou sua espada, deixando a lamina na horizontal na altura das coxas. Colocou a mão esquerda por cima da direita e em seguida, passou deslizando por toda extensão da lamina. Nesse movimento, a lamina foi ganhando luz própria. Ele afastou as pernas e girou a espada no ar fazendo um oito, e repetiu o movimento.
Com um movimento pra esquerda e depois um de salto pra direita, atacou a esquerda de Enric com um golpe diagonal. Dessa vez, mais rápido e forte. Enric conseguiu defender, mas logo depois um soco acertou-lhe o rosto. Com um passo para traz, retomou o equilíbrio, sacudiu a cabeça e sorriu. Retribuiu com um soco rápido, agora que a guarda do outro estava baixa, e em seguida um golpe extremamente forte com a lateral do machado, que o fez cair rolando a mais de dez metros de distância.

Metade da arquibancada levantou-se impressionada, a outra metade não teve reação. Levi, os outros conselheiros e o Akutenshi olhavam quase desdenhosos.

O Alvo levantou-se rapidamente, mas claramente afetado pelo golpe. Fez um movimento circular com a espada, e sibilou algumas palavras desconhecidas. Sua espada tornou-se um turbilhão de fogo, uma emanação luminosa de energia. Enric tomou uma postura séria, colocou o machado ao lado do corpo em postura de defesa, dobrou os joelho e redobrou a atenção.

Agamenon saltou de onde estava, com um som de águia. Num rasante chegou a Enric, golpeando-o pela esquerda. O outro defendeu com a lamina do machado. Essa é minha chance – pensou o Alvo.

Segurou a espada com as duas mãos e num movimento de rápido de rotação do corpo, atingiu o outro flanco de seu adversário.
Enric caiu dali a dois metros, de cara no chão. O golpe acertou as costas.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Contos de Altamir #25

Ano dez - Grande Arena de Agni
A primeira luta começou e alguns participantes ficaram na sala de preparação. Felipo Vuur vestia uma armadura negra com auxilio de seu irmão, Antoni, que havia participado da segunda etapa. Enric estava sentado na mesa bebendo e observando a cena quando Lara chegou.

-A que devo a honra...

-Guarde sua cortesia pra outra hora – ela o interrompeu – quero saber o que aconteceu lá – ele estava tranqüilo, com um sorriso calmo – Sei que você tem algo a dizer.

-Era lua cheia. Você reparou?

-O que você quer dizer? – Lara estava impaciente.

-Apollyon se alimentava naquela floresta. Sempre na noite da Lua Cheia, ou se preferir, na noite do Rei Lua – Lara observava confusa. Ele levantou-se, tomou um odre de vinho nas mãos e andou devagar, em direção a um assento confortável de três lugares encostado na parede do aposento – Você conhece a história de Altamir. Só não conhece os detalhes – enquanto sentava-se olhou para o outro lado da sala, onde Felipo se esforçava para entrar em sua armadura, uma cena semelhante a um embate – O primeiro rei a governar dois territórios em Altamir, antes de ser assim chamada, foi Enric Scarlet, o primeiro de seu nome, e o ultimo, antes do próprio

Altamir Gilgamesh, foi Yuno Scarlet, o Sangue de Dragão, filho de Enric. Cerca de trezentos anos antes da chegada dos Gilgamesh em nosso país – fez uma pausa e deu um grande gole no vinho – A fortaleza dourada foi erguida por Enric Scarlet, o segundo de seu nome, e concluída por Leon Scarlet, Presas de dragão, muito antes do reinado de Altamir Gilgamesh – mais uma pausa e outro gole – O ultimo rei em Agni, Roan Scarlet, Asas vermelhas, governou toda ilha central. E antes dele, Enric Scarlet, o terceiro de seu nome – Lara estava agora sentada ao seu lado.

-Por que esta me contando sobre a história de seu clã?

-Na verdade essa é a minha história e essa é a minha linha direta de antecessão. Eu sou Enric Scarlet, o quinto de meu nome. Filho de Apollyon Scarlet, que por sua vez, é filho de Enric Scarlet Quarto. E de todos esses que citei, nenhum morreu por idade avançada. Todos foram mortos em combate.

Os olhos de Lara quase pularam pra fora. Sua expressão se tornou vazia e ela se inclinou levemente para traz.
Enric, filho de Apollyon, o Dragão Amaldiçoado – pensou ela, ou talvez até sussurrou.

-Em toda História de Altamir, Enric foi um grande nome, sendo sempre sucedido por um grande dragão – Enquanto ele falava, ela parecia fazer um leve sinal de negação com a cabeça – E os filhos de Grandes dragões tem por herança o fado de matar seu pai – por um momento, ele perdeu a disposição com que contava a história – Foi Apollyon quem matou o homem que me criou, que na verdade nunca foi meu pai, e fui eu quem matou Apollyon. E só quando eu o matei soube que era meu verdadeiro pai, pois muito do que ele sabia foi transmitido pra mim de alguma forma.

Lara sorriu meio nervosa.

-Então quer dizer que agora você é um dragão? Isso é um absurdo – gargalhou.
Enric riu junto, no entanto, o riso dele era sincero. Mesmo tendo perdido seu pai, pela segunda vez.

-Acho que é melhor você perder na primeira luta. Não quero ser obrigado a lutar com você – disse ele.

-Pois é... Eu também não ia querer lutar com um dragão! - Gargalharam.
Lara sentia um misto de nervosismo, e confusão. Muitas informações ainda não tinham sido digeridas completamente, além disso, ela não sabia se podia acreditar nele.

-Eu falo sério – pararam de rir, e agora trocaram um olhar sério – Não tenho porque mentir pra você...

Ela não teve reação. Ele levantou-se e deixou a caneca de vinho pela metade nas mãos dela. Pegou o machado que estava em cima da mesa – aquele que ela o havia dado – e virou-se à porta.

-Me deseje boa sorte. Enquanto ele andava até a porta, Romeu Kurayuki entrou com um ar estafado. Ainda empunhando uma espada larga, e um pouco sujo de poeira.

-Que problemático – Disse Romeu – Chegou uma hora que eu achei que ele ia chorar! – Enric sorriu.

-Seria bom se vocês viessem assistir minha luta – Romeu parou e observou Enric de cima a baixo. Todos na sala deram atenção – vocês não podem perder o renascimento do dragão – e aquele sorriso insano reapareceu no seu rosto.

-Vou assistir do melhor lugar - Romeu embainhou sua espada e saiu com Enric pela mesma porta.

Lara veio atrás deles, e logo depois, Felipo Vuur.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

O Reencontro de Anjos - ♛ Cαpítulo IV - Parte III

Kanade entrou na casa novamente sem me falar nada, mas em pouco tempo ela já estava de volta com o IPod seguro na mão direita, ela se sentou novamente ao meu lado e colocou um dos fones em meu ouvido e o outro fone no dela. Depois de alguns segundos uma música começou a tocar, era Alchemy das Girls Dead Monster. Nós a ouvimos até o final e aquelas sensações de antes voltaram com tudo, era inexplicável. Perguntava-me se ela sentia o mesmo quando a ouvia.
Isso me lembrou que eu havia preparado um presente para ela, não era bem um presente, talvez me ouvir cantar soasse mais como um presente de grego, mas tinha que aproveitar o pouco de coragem que me veio.
Tirei os fones dos nossos ouvidos, e aproximei meu rosto lentamente, ela não recuou apesar de perceber que o rosto de Kanade parecia estar queimando de tão vermelho que estava. Logo meus lábios tocaram um pedaço da orelha dela e o ar quente que saia da minha boca com certeza a agradava já que os pêlos do corpo dela estavam completamente arrepiados.
Aisaretai demo aisou to shinai
Sono kurikaeshi no naka wo samayotte
Boku ga mitsuketa kotae wa hitotsu kowakutatte kizutsuitatte
Suki na hito ni wa suki tte tsutaerunda
("Eu quero que você me ame,mas eu não acho que vá fazer isso"
E ando sem rumo enquanto repito isso pra mim
É a única resposta que tenho,mesmo se eu estiver assustado ou machucado
Vou dizer "Eu te Amo" pra quem eu amo)

Quando terminei de cantar ouvi alguns soluços, Tachibana estava chorando. Não sabia que eu cantava tão mal assim, não foi mesmo uma boa idéia usar minha voz para presentea-la.

- Sabe... Antes de você chegar eu recebi uma notícia dos meus pais. Era algo que eu esperava a muito tempo e eles resolveram me contar hoje como um presente. Mas agora me sinto estranha, não sei bem se quero mesmo esse tipo de coisa.

- E o que foi isso?

- Há muito tempo quis estudar na América e me formar por lá, minhas notas eram boas mas não o suficiente para uma bolsa. Esse é o meu último ano, minha última chance e finalmente meus pais receberam uma ligação e eu fui aceita, mas preciso ir para lá imediatamente, mas precisamente amanhã as 10 horas, meus pais fizeram questão que todos os meus amigos comparecessem a essa que se tornou uma festa de despedida.

A notícia soou como um soco na barriga para mim, e algo parecido com nostalgia invadiu meu corpo, como se já tivéssemos nos separado antes. Coisa que não havia como ter aconcido já que nos conheciamos a menos de 24 horas.

Eu queria gritar para ela ficar, implorar e espernear, mas de que isso adiantaria? Aquilo era o sonho dela e eu não tinha o direito de impedí-la, na verdade nem direito nem moral para isso, ela estava abandonando amigos e parentes, não seria um simples conhecido que conseguiria fazê-la desistir disso, e se a dúvida que ele sentia fôsse realmente por causa dele estaria no caminho dela, algo que não queria.

- Você deveria estar chorando de alegria, é seu sonho e finalmente vai realizá-lo - Forças para falar isso não sei de onde tirei e a força que me impedia de chorar já estava se esgotando, tinha que sair dali o quanto antes.

- Mas eu...

sexta-feira, 15 de julho de 2011

O Reencontro de Anjos - ♛ Cαpítulo IV - Parte II

Olhei para todos os lados procurando-a, foi então que ouvi sua voz novamente.

- Aqui no interfone, seu bobo - Ouvi os sons de sua risada parecendo se divertir com minha confusão então percebi que ela me observava de uma das janelas.

Ela acenou para mim e fez sinal para que eu esperasse. Encostei-me a um poste que estava ao meu lado apoiando um dos pés no mesmo e em menos de um minuto ela já abria o portão de sua casa vindo ao meu encontro. Os cabelos soltos como sempre deixando uma parte cair sobre seus seios e a maior parte dele escorrido em suas costas. Ela estava maquiada diferente das outras vezes que havíamos nos encontrado no mesmo dia, mas sem muito exagero, suas bochechas estavam rosadas e o batom em seus lábios parecia ser da mesma tonalidade. Usava um vestido branco com um pequeno laço na parte superior direita coberto em partes pelo cabelo dela, seus ombros e pernas estavam à amostra, “incrivelmente linda”. Era a única coisa que eu conseguia pensar naquele momento.

- Então você vem aqui na minha porta depois de ter sido convidado, não se da nem ao menos o trabalho de chamar e vai embora? - Ela falou interrompendo o silêncio que se formava durante a admiração.

- Não é bem assim, eu...

- Eu estava vendo tudo pela janela, e você...

- Quer dizer que estava tão ansiosa pela minha chegada que não conseguia sair da janela, imagino como ficou feliz por me ver - No jogo de interrupções parece que finalmente a venci, ela parecia tentar pronunciar alguma coisa, mas sua fala era cortada e no fim não saiu mais nada da boca de Kanade. Ela me olhava, suas bochechas mais vermelhas ainda, parecia um pouco irritada com minha insinuação apesar de não discordar dela em nenhum momento agora com a cabeça baixa mexendo o pé no chão como uma criança birrenta.

- Vamos entrar então, com essa roupa você não vai durar muito tempo aqui fora nesse frio - Dessa vez foi eu quem deu um fim ao silêncio.

Ela entrou primeiro e eu a segui, caminhamos sobre algumas pedras bem ajeitadas cercados pelo que parecia ser um belo jardim antes de ser completamente tomado pela neve, agora tudo em volta era branco até o estreito caminho entre o portão e a porta da casa pelo qual seguíamos. O lugar era bem simples e por fora percebia que não deveria ter mais do que dois andares. Ela abriu a porta e entramos, levei um pequeno choque térmico com a mudança de temperatura, dentro da casa estava quente talvez pela concentração de muitas pessoas.

Aos poucos fui apresentado a cada um dos amigos e amigas de Kanade, entre elas conheci até a garota que me deu uma voadora mais cedo, ela se desculpou com tanta sinceridade que cheguei a me sentir culpado mesmo sendo a vítima. Por fim conheci os pais dela e meu nervosismo diminuiu bastante depois disso já que eles conversavam bastante sem nenhuma suspeita. Pela primeira vez em muito tempo me senti normal e bem vindo em algum lugar onde ninguém me olharia diferente por não ter uma família.

Por um momento enquanto jantávamos parei para pensar em quando acordei, nunca imaginaria que meu natal seria tão diferente, durante todo esse tempo que degustávamos de tudo o que havia na mesa não conseguia parar de olhar para Tachibana. Nós fomos os primeiros a terminar a refeição pedimos licença aos outros e nos voltamos par a varanda. Era iluminada apenas pelas luzes que vinham de fora: postes e Lua. O que me fazia imaginar várias cenas românticas com a garota que estava agora ao meu lado. Logo ela se sentou em um pequeno muro a nossa direita e eu me sentei ao seu lado apoiando a palma das minhas mãos no murinho. Kanade balançava as pernas enquanto eu encarava uma nuvem que por alguns segundos encobriu a Lua. Estávamos parecendo duas crianças imaturas sem palavras, e era isso mesmo.

Contos de Altamir #24

Ano dez - Grade Arena de Agni
A Grande Arena de Agni era uma elipse de aproximadamente cinquenta metros no eixo menor e cem na perpendicular. O chão era em barro pisado com alguns resquícios de grama, cercado por um muro largo de um metro e meio em pedra. Atrás do muro, arquibancadas em arco, arrumadas de maneira que todos pudessem ver o que acontecia no centro. Em determinadas partes na arquibancada havia camarotes.
Na arena, havia duas entradas, nos extremos. Eram grandes portas de madeira, com aproximadamente três metros de largura e quatro de altura, que abriam no meio. Atrás das portas uma antessala, e logo ao lado, um cômodo confortável e espaçoso, o salão de preparação para luta.

A arena estava cheia, não havia mais lugares na arquibancada e as pessoas que chegavam se amontoavam nos portões. Quando Lara e Enric foram anunciados por um cavaleiro da guarnição dos Conselheiros a multidão abriu espaço. Enquanto eles passavam, ouviam a gritos da multidão. Alguns incentivando, outros amaldiçoando, e havia uns até que elogiavam maliciosamente a moça.
Foram direto ao centro da arena, onde já se encontram os outros quatro. Felipo Vuur, Romeu Kurayuki, Dante Vannsart e Agamenon Lumbre. Pouco depois deles, entraram os conselheiros, vestidos em túnicas reais e adornados por mantos costurados a fio de ouro. Enquanto Levi e os outros dois chegavam ao centro da Arena, a multidão foi se aquietando.

-Bom dia, senhores, senhoras – as arquibancadas silenciaram. Ainda ouvia-se barulhos vindos de fora, mas era possível ouvir claramente a voz de Levi – Hoje presenciaremos um acontecimento incomum, que só foi visto pela ultima vez a mais de quinhentos anos. Uma disputa pelo trono das cidades de Agni e Varuna! –a multidão explodiu em ovações e aplausos. Com um gesto Levi conseguiu retomar a palavra – Sem mais delongas, devo anunciar como será a terceira etapa dessa disputa, que começará hoje à tarde – tirou um tecido enrolado de dentro do manto – aqui estão os nomes dos senhores e da senhora – abiu o papel e mostrou que havia nele escrito o nome dos seis que estavam ali seguido do brasão de sua casa. Levi se virou mostrando o tecido aos que estavam ao redor – a etapa de hoje será muito simples – fez uma breve pausa – a partir do sorteio que faremos aqui, aos olhos do povo, acontecerá duelos diretos, um contra um – toda a arquibancada começou a comentar ao mesmo tempo.
-Como assim? Vamos lutar entre nós? – perguntou Lara – uma luta não prova nada. Depois de tudo que passamos vocês vão escolher um rei em uma disputa de quem sabe brigar melhor?!
-Na verdade, não será observada apenas a luta, mas a conduta de cada participante durante todas as três etapas do torneio – disse Gerald, que estava ao lado direito de Levi.
Levi colocou o papel no chão, e sussurrou algumas palavras. Onde estavam os nomes surgiram pequenas esferas, semelhantes aos amuletos que coletaram. Nas esferas também estavam gravadas o nome e o brasão de cada um deles. Pegou nas bordas do pano e fechou como um saco.

Gerald tirou um papel com uma tabela de confrontos em fluxograma com os espaços ainda a preencher.
-O sorteio é simples. A ordem dos nomes sorteados será a mesma da tabela. E cada um vai tirar um emblema, para que não haja suspeitas de trapaça – neste momento Lara notou que na tabela, o primeiro e o ultimo sorteados estariam imediatamente na segunda fase, de um total de três lutas – Mulheres primeiro – o conselheiro sorriu.
Lara tirou o próprio nome e logo em seguida foram sorteados, Romeu Kurayuki e Dante Vannsart. Era muita coincidência, os três de Varuna na primeira chave enquanto os outros de Agni estariam na outra.

Posteriormente foram sorteados Enric Scarlet, Agamenon Lumbre e Felipo Vuur, completando assim a tabela. Nesse momento Lara se sentiu um pouco aliviada, pois não teria que lutar contra Enric, pelo menos nas duas primeiras fases.
-Sorteados os nomes, estão liberados para fazer uma refeição. À terceira hora dessa tarde começará a primeira luta, entre Dante Vannsart e Romeu Kurayuki. Em seguida, Enric Scarlet contra Agamenon Lumbre. Os vencedores terão pela frente Lara Akuana e Felipo Vuur.

sábado, 9 de julho de 2011

Contos de Altamir #23

Ano dez – Floresta Amaldiçoada, ao sul de Agni
-Já era hora de você acordar.
Agora estavam na caverna que ele havia mostrado a ela.
-Por quando tempo eu dormi? – Lara estava sentada perto dele, no banco de pedra.
-Um dia e uma noite. Já está amanhecendo.
Ele sentou-se na cama de pedra. Estava com uma atadura em volta do tronco e outra na perna direita, no entanto, olhou primeiro para seu braço esquerdo. Ficou apertando o bíceps e girando o braço, como se procurasse algo.
Lara só observava. Ele sorria. Um sorriso insano, que lhe fez tremer. Por um instante não pareceu humano. Olhou pra ela enquanto se desfazia sua faceta. Ela ainda pôde ver duas linhas em sua testa, que pareciam estar formando algum desenho, se desmanchar.
-Sonhei que vi você lutando – fez uma pausa com um sorriso mais amigável no rosto e a cabeça inclinada pra direita – No sonho você tinha uma espada longa e esguia e com ela cortou um homem no meio – ela se levantou e pegou de cima da mesa sua espada embainhada. Puxou da bainha de madeira e lhe mostrou a escrita.
-Mizuken... Acho que a primeira palavra é Mizuken... – ele olhou sério – e é assim que será chamada, afinal, uma boa lamina merece ter um nome.
-Já vi essa inscrição em outra espada.
-Sabe o que quer dizer?
-Não... Tudo que eu conheço além do idioma comum é um pouco de Sumö, que aprendi com uma arquibruxa. E isso é muito diferente de Sumö – Levantou-se devagar e notou que estava só com suas roupas intimas. Olhou para a perna enfaixada, e começou a coçar por cima – Onde arranjou essa espada? Na ultima vez que a vi não portava armas.
-Alguém me deu – O manto de Enric estava em cima da mesa. Ela pegou e jogou para ele, junto com o restante de suas roupas. Ainda na mesa, por baixo do mando havia um machado – e isso é pra você.
-Então, anda roubando...
-Um homem morto não precisa de armas – ele sorriu e se sentou novamente.
-Você matou mesmo aqueles dois – ele parou um instante e começou a tirar a faixa da perna – eu realmente achava que você era uma garota mimada de castelo.
Não houve resposta para isso. Ela apenas deu as costas e começou a arrumar suas coisas, no cavalo.
-É melhor que você não tire isso – virou-se novamente para ele – Ainda não está... – parou. Enric já estava sem a atadura e não havia nenhum ferimento, nem cicatriz.
Ela não teve reação, e ele parecia habituado a isso. Começou a tirar a outra que estava em seu tronco e ela não prestava atenção em mais nada. Quando ele removeu completamente a atadura ela veio ver suas costas. Não havia nem sinal de ferimento, só uma fina camada da pasta de ervas que ela havia feito.
-Incrível – ela passou a mão em suas costas, removendo a pasta. Ele virou-se lentamente, e ficou de frente para ela. A mão dela agora estava no peito dele. Tocou rosto dela com a mão esquerda e a beijou.
Em poucos segundos ela se afastou, e deu as costas pra ele.
-Temos que ir embora – Pegou o restante de suas coisas e montou o cavalo.
Quando ele saiu, ela estava esperando lá fora, a poucos metros de distancia da porta da caverna. Desviou o olhar quando ele a olhou.
-Se achar melhor, podemos ir devagar – disse ela sem olhar – pra que seus ferimentos não abram novamente.
Ele montou e saiu na frente sem dizer uma palavra, e foi assim toda a viajem até Agni.
Ao chegarem a cidade, não havia ninguém esperando. Não houve festa nem aplausos. Passaram quase despercebidos, aos olhares dos moradores comuns. Apenas alguns acenos e sorrisos, dos conhecidos. A cidade parecia mais cheia do que antes da partida deles, e todos pareciam estar indo pra um mesmo lugar.
Os dois foram direto ao castelo, onde encontraram Levi na porta.
-Bem na hora! – disse ele. Estava bem vestido, e ornamentado como se estivesse indo a uma cerimonia. Havia também uma felicidade incontida estampada em seu rosto – quase começamos sem vocês - Os dois ficaram apenas olhando-o sem entender – Ah, já tinha me esquecido... estamos indo a Grande Arena de Agni. É onde acontecerá a terceira e ultima etapa.
-Mas, e os amuletos?
-Sim! Sim! Podem me entregar agora – ela tirou e do bolso dois amuletos, o primeiro, que era uma pedra preta e o vermelho, que encontrou com Enric.
Lara estendeu a mão para entrega-los juntamente com a espada. Ele pegou cada um dos amuletos em uma mão e deixou a espada com ela.
-Me encontrem na Arena, preciso guardar isso no seu devido lugar – Lara tentou pronunciar alguma coisa – É sua – disse ele antes – deu as costas e ao chegar perto da porta os dois já estavam se virando para ir – Enric! – se virou novamente – Isso é seu – jogou o amuleto pra ele – Eu sinto muito... E estou muito agradecido.

sábado, 2 de julho de 2011

Contos de Altamir #22

Ano dez - Vila dos Selos, Floresta Amaldiçoada
Em um dos lados na nova lamina de Lara havia inscrições num alfabeto que nunca tinha visto. Perfeitamente entalhadas, as letras pareciam algum tipo de decoração.
-Me parece que ela não quer cooperar, Julian – disse o menor. Era um homem de baixa estatura, menor que Lara, esguio, com uma feição bestial, e que mostrava seus dentes tortos num sorriso zombeteiro enquanto seu cabelo liso e fino caia na altura dos olhos. O outro era grande e forte como um touro, com aparência apalermada e um sorriso bobo no rosto, cabelo muito curto e rosto sem barba – Vamos pegar o amuleto à força então.

Julian puxou um machado de duas mãos por trás de si (do tamanho e largura de seu tronco) com apenas uma mão, girou ele desenhando um oito no ar e se pôs em postura de ataque, com a arma na mão direita, ao lado do corpo e a mão esquerda aberta à frente.
-É sua ultima chance moça, dê aqui o amuleto – à sua frente, Lara não tinha expressão nenhuma no rosto, era apenas o vazio e a concentração de um mestre Kendo. Segurou a espada com as duas mãos e pôs a frente do corpo, com os joelhos e braços perfeitamente flexionados em uma postura impecável – Olha só Julian! Ela quer lutar! – gargalhou.
-Vamos acabar logo com isso – sussurrou algumas palavras em Vaês, um dialeto perdido da cidade de Varuna.

Julian gargalhou abobalhado, o outro sacou sua arma, uma espada de assassino curta e reta (algo incomum em Agni). O primeiro partiu pra cima de Lara a toda velocidade, o segundo fez alguns gestos com a mão esquerda segurando a espada logo abaixo dos olhos e logo o seguiu.
-Com toda força Julian! – gritou Sunny antes do primeiro golpe – não vamos pegar leve só porque ela é uma mulher – e foi exatamente o que ele fez. Correu a pequena distancia entre eles, e desferiu um belo golpe horizontal, partindo da direita e usando as duas mãos.

Lara era só concentração. Parou o golpe com a espada em pé, com um movimento lateral simples, sem tirar os pés do chão. A força do machado fez com que ela se deslocasse involuntariamente alguns centímetros pra sua direita, o que não mudou sua postura e tirou um pouco de sua concentração. Mesmo antes que ela pudesse revidar o outro surgiu a sua direita como um zumbido, numa velocidade incrível, ele nem ao menos tocava o chão quando segurando a pequena espada no sentido oposto, com a mão esquerda fez um movimento pra enterra-la no lado direito de Lara. Ela por sua vez, soltou a mão direita da espada, fez um curto movimento com o tronco para desviar do golpe, apanhou o pulso de Sunny e o jogou contra o corpo de Julian.

Caíram amontoados, a três metros de distancia. Sunny levantou enfurecido enquanto o outro levantava lentamente ainda meio atordoado pela pancada. Agora foi o menor que teve a primeira iniciativa, se inclinou para frente e saltou, percorrendo os três metros de distancia sem tocar o chão. Desferiu dois golpes na diagonal, que foram defendidos secamente por Lara antes que ele tocasse o chão a sua frente. Após o terceiro, ela fez um movimento giratório de corpo, fazendo-o passar ao seu lado e acertou com a coronha da espada a nuca dele. Sunny caiu. Logo em seguida, o outro já estava a sua frente com o machado a descer-lhe sobre a cabeça. Ela pôs sua espada na horizontal e defendeu segurando com a mão esquerda o lado da lamina.

Vamos ver de que é feita essa espada, pensou. Era muito risco defender um golpe com esse peso dessa forma, no entanto, a espada resistiu. O homem, não contente, lhe acertou o peito com o pé direito. Ela percorreu mais de três metros até atingir com força o que antes era o muro de uma casa. Caiu sentada.

Levantou apoiando-se na espada. E quando menos percebeu, Sunny estava a sua direita novamente como da primeira vez. Que inseto irritante, pensou. Dessa vez empunhava sua arma da maneira correta. Ela defendeu, com a espada em pé, e imediatamente viu o homem se contorcer no ar pra lhe acertar um chute do lado oposto. Acertou seu rosto. Não tinha a mesma força de Julian, mas conseguiu desequilibra-la. Dois passos à direita foram o suficiente pra reaver o equilíbrio. Recobrando sua postura foi atacada novamente por Julian. Dessa vez, esquivou-se ligeiramente pra direita. Ela tinha abertura para revidar com um soco ou chute, mas um golpe físico dela não afetaria um homem daquele tamanho.

Preciso me acalmar, ou vou acabar morrendo aqui! – ela parou e abaixou a espada. Os dois estavam perto de si, no entanto, não o suficiente pra acerta-la. Embainhou a espada e fechou os olhos. Suspirou tão fundo que eles puderam ouvir.
-Não adianta desistir agora! Você já está morta!
-Não... Vocês que estão mortos! – Abriu os olhos. Parecia tão concentrada quanto no inicio da luta – ou talvez mais.

O menor partiu pra cima dela, em dois passos já estava a sua frente desferindo uma estocada que lhe atravessaria o coração. Parou. Antes que pudesse perceber a espada de Lara tinha atravessado seu peito.
-Mas, quando? – foram suas ultimas palavras.

Ela arrancou a espada do peito dele e embainhou novamente, enquanto o outro se atirava com tudo pra cima dela enfurecido, girando o machado com as duas mãos, num golpe que partia da esquerda. Ela abaixou-se e se esquivou girando. Enquanto passava por baixo de seu braço, sacou sua espada e partiu o homem ao meio.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

O Reencontro de Anjos - ♛ Cαpítulo IV - Parte I

No caminho de volta para casa passei por algumas lojas. Olhava distraído para as vitrines iluminadas por pisca-piscas de várias cores e tamanhos, boas promoções de natal. Foi então que lembrei que seria bom levar algum presente já que estaria visitando a casa de desconhecidos. Entrei em uma dessas lojas que vendem tudo para garotas, passei pela parte de roupas, calçados, lingeries... - Tosse.

No fim das contas não consegui pensar em nada para dar a Kanade, eu nunca havia presenteado ninguém muito menos uma garota. O que elas gostam? Não fazia a mínima idéia, se minha mãe estivesse aqui ela poderia me ajudar nisso agora.

Pensando em meus pais lembrei-me de como meu pai costumava deixá-la feliz em seu aniversário. Ele a levava até a varanda no final da noite sentava os dois em cadeiras de balanço observando as estrelas que cintilavam nos céus e cantava algumas músicas românticas, ela se derretia toda, o velho cantava bem não dava para negar.

Eu não sabia tocar e minha voz era horrível, mas não tive uma idéia melhor. Sai da loja as pressas até finalmente chegar em casa.
Quando cheguei já eram 18h30min. Havia marcado de chegar à casa de Kanade às 20h30min. Durante esse tempo que me restava experimentei algumas roupas, fazia tempo que não comprava novas e tive muito trabalho até achar algo que parecesse bom. Antes de me trocar passei alguns minutos na banheira, apoiei meus braços nas bordas dela assim como a nuca e encarei o teto branco do banheiro por alguns segundos antes de fechar meus olhos. Assim que fiz isso um flashback começou em minha cabeça, começou no momento em que vi a garota encostada em frente à loja de conveniência, em seguida o hálito dela me deixando em transe e nossos olhos cruzados sem perder o foco em nenhum momento. Depois o reencontro na loja de CDs, quando sentei ao lado dela e ela recuou e por fim a pequena despedida, pensar na palavra despedida associando a ela me dava um tremendo aperto. Suspirei e finalmente reabri os olhos.

- Isso tudo realmente aconteceu hoje?

Levantei-me e me enxuguei enquanto saía do banheiro me enrolei na toalha. Voltei para o quarto e comecei a passar as roupas que havia escolhido. Estava distraído e quando olhei para o relógio ele já marcava 20h00min. Apressei-me a trocar de roupa vestindo o casaco preto e uma calça branca. Coloquei as luvas e o gorro e saí de casa e logo me dirigi ao metrô pegando o primeiro que passava.

Quando cheguei ao lugar marcado pelo endereço a rua estava vazia e aparentemente até sombria, mas não era esse o clima, à medida que eu caminhava rua a dentro percebia que por cada casa que passava ouvia conversas altas diferentes as famílias e amigos já estavam reunidos o que me deixou um pouco nervoso pensando que ao entrar na casa de Kanade todos me olhariam de forma estranha. A essa altura eu já estava parado a frente da casa dela e pensava seriamente em voltar. Não conseguia ouvir a voz dela em meio à pequena algazarra que vinha de dentro.

Dei a volta para ir embora depois de muito pensar.

- Você não vai mesmo entrar? - Era a voz de Tachibana vinda de algum lugar que ainda não havia notado.