sábado, 25 de junho de 2011

Contos de Altmir #21

Ano dez - Vila dos Selos , Floresta Amaldiçoada
Já estava vestida com o manto de lã quando apareceu naquele lugar, com a espada embainhada e presa no seu cinto. Correu em direção a Enric sem prestar atenção em mais nada, ajoelhou-se ao lado dele e perdeu o fôlego ao olha-lo. Havia uma poça vermelha ao seu redor e ela pensou que estivesse morto. Lara tremia assustada. Olhou para os lados e percebeu onde estava.
A vila dos selos estava quase completamente incendiada, exceto pela casa central, que se manteve intacta. Cinzas caiam sobre eles, ela verificou se ainda estava vivo, aproximou seu rosto e sentiu a respiração fraca.

-Me desculpe – sussurrou. Ela fez um movimento brusco pra traz – não chegaremos primeiro.
Ele está tão perto da morte, como pode ainda pensar nessa disputa? Pensou ela.
-O que aconteceu aqui? O que é toda essa destruição?
-Fogo – suspirou pesadamente – o fogo que queima almas – falava lentamente, e com grandes pausas para respirar – fogo de dragão... De dois dragões – tossiu e respingou sangue na roupa dela.

-Não fale! Só vai aumentar os sangramentos!
-Sei que não vou morrer aqui, as feridas já estão se fechando, posso sentir – sua voz soava aparvalhada.
-Não fale besteiras, você está tossindo sangue! Provavelmente teve algum órgão perfurado.
-Muitos! – tossiu novamente, mas dessa vez não houve sangue. Fechou os olhos e riu debochado – pelo menos eu o matei – tinha dificuldade de manter-se acordado.
-Quem você matou?
-Apollyon... Eu matei meu pai.
-Do que você está falando? Seu pai morreu há muito tempo – ele desmaiou – Enric! Acorde! – pegou pelos ombros e o sacudiu com vigor, até que da mão dele caiu uma pedra. Era vermelha, escarlate como os olhos dele. Quando pegou a pedra, notou que pouco ao lado havia um objeto branco de vinte e cinco centímetros, na forma de um canino. Era um dente.

Apanhou do chão com cuidado e examinou por alguns instantes. Tinha realmente a forma de um dente, no entanto, parecia muito mais resistente. Afiado como uma espada, e brilhante como vidro. Além disso, podia sentir uma emanação de energia dentro do objeto. Guardou em um bolso por baixo do manto, tanto o amuleto quanto o dente e se virou para Enric.

Lara tinha habilidades básicas de cura, magia de iniciante, que lhe seria muito útil agora.
Tirou o manto de lã e notou que as feridas já estavam estancadas, ainda tinham cor viva, de carne cortada recentemente, no entanto, já não sangravam. O que mais lhe chamou atenção foi uma ferida que tinha nas costas, muito profunda e do mesmo diâmetro do dente, provavelmente foi assim que ele foi arrancado, pensou ela. Rasgou um pedaço de seu manto e fez uma limpeza superficial usando o cantil de água que trazia consigo.

Enric tinha um porte razoável, pele acobreada e cabelo negro curto. Era um corpo muito marcado por cicatrizes de fogo. A orelha deformada era o que mais incomodava Lara, um ferimento causado pelo próprio pai dele. Ela só conseguia pensar em o que ele queria dizer com “matei meu pai”.

A pele dele é dura, parece couro de um animal de grande porte. Não... É muito mais Grossa, e escamada! É pele de dragão!

Após limpar suas feridas, ficou observando a maior nas suas costas, era como se diminuísse enquanto olhava.

-Olha o tamanho dessa ferida, você deveria estar morto – dizia para o homem desacordado – tenho que tirar você daqui antes que...
-Antes que chegue alguém pra matar vocês dois? – um calafrio atravessou Lara. A voz desconhecida vinha de traz de si. Não se virou. Primeiro ajeitou o corpo desmaiado de Enric.

-Se for embora agora, pouparei sua vida – levantou-se ainda de costas, deixando o manto cair. Pôs a mão direita no punho da espada. Estava à esquerda de seu corpo, e só agora ela notou que tanto a guarda quanto o pomo havia mudado. No pomo agora havia uma pedra azul escuro com formato parecido com o amuleto de onde a espada surgiu, no entanto, menor. A guarda, simples e achatada, não chegava a ter quinze centímetros de diâmetro. Uma forma mais apropriada para uma espada de duas mãos (uma Catana longa, levemente curvada), com um punho estável e um formato simples, que transparecia sobriedade.

-Nos dê o amuleto, não queremos machucar uma moça perdida na floresta – um outro homem sorriu e ela teve certeza de que eram participantes da competição.

Lara se virou lentamente sacando a espada. Posicionou sua arma ao lado do corpo e olhou diretamente para os adversários: Sunny Shine e Julian Marin.

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