quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Contos de Altamir #32

Ano dez – Grande Arena de Agni

A multidão fora e dentro da arena silenciou, os conselheiros sussurravam entre si, akutenshi -que já havia retornado ao camarote - estava apreensivo e outra figura que acabara de chegar ao camarote real pôs a mão no ombro de Levi, o único conselheiro que mantinha a sobriedade. Totalmente coberta por um capuz, era impossível ver o rosto e corpo daquela pessoa, apenas podia-se afirmar que não era, ou pelo menos, que não tinha estatura de um adulto.

O Rei do norte se levantou, debruçou-se sobre a borda do camarote e fitou a menina que já olhava para trás, como se esperasse essa reação dele. Ele tinha um olhar questionador e ela um sorriso tranqüilo. Ela olhou novamente pro centro da arena.

-Alicia o q... – disse Akutenshi, e ao mesmo tempo ouviu-se um barulho intenso.

Um rugido extremamente grave, que fez arrepiar até o grande Rei do norte. Seguido de uma gargalhada macabra. Akutenshi olhou perplexo para aquela nuvem densa de fumaça e poeira no centro da arena, onde ele achava que jazia um homem derrotado, e de onde acabara de ouvir aqueles sons monstruosos.

Antes mesmo que a nuvem se dispersasse viu-se algo sair voando de lá. Com a velocidade incomparável ele voou até cerca de vinte metros de altura e parou no ar, como se pudesse controlar a gravidade e todos puderam vê-lo.

Era uma figura negra, com o tronco nu. De seu dorso saiam duas asas gigantes, também negras, robustas e escamadas. Tinha o lado direito de seu peito sangrando, assim como o braço esquerdo, que parecia deslocado. Seus olhos eram de um vermelho escarlate intenso e em seu rosto havia uma expressão de extrema excitação.

-Deixe-me contar uma coisa... – disse a figura humanóide alada olhando para seu oponente – eu não sou canhoto.

E com isso, Enric, o quinto de seu nom, o Dragão Negro, desceu em disparada, num assalto esmagador. Nas arquibancadas e nos camarotes, não havia nenhum pingo de fôlego. Até os conselheiros que a pouco conversavam entre si, pararam para prestar total atenção no momento único.

Felipo estava próximo ao centro da arena naquele momento - Após seu ultimo golpe, teve tempos suficiente para ir andando até lá, onde acreditava, ouviria dos conselheiros que havia ganhado a luta – em seu lugar, qualquer um temeria a morte. Independentemente, de suas experiências anteriores em lutas, não havia ali ninguém que já tivesse visto tamanha emanação de poder. Apesar de haver ali um ou outro que presenciou Kamael em suas batalhas, ninguém era nascido na época das grandes batalhas, onde Altamir Gilgamesh lutou contra animais sagrados e os derrotou sozinho na sua maioria. No entanto, ali estava o homem – ou seja lá o que – mais preparado para aquele momento.

Felipo se pôs em posição de defesa e esperou o golpe. A emanação de poder do dragão era tamanha, que podiam ver seu rastro de fumaça no ar. Do outro lado, o Salamandra por baixo de sua armadura negra, havia se tornado totalmente vermelho, com exceção de seu rosto e pescoço, que mantinha a cor morena.

No ultimo instante precedente ao golpe, uma barreira mágica se estendeu sobre toda a circunferência irregular na arena. Um campo translucido, que se assemelhava a uma bolha de sabão em sua aparência frágil, mas que, no entanto, salvaria a todos ali presentes do que estava por vir.

Lamina contra Lamina.

Machado contra espada.

No primeiro momento, nenhum barulho se ouviu, um intervalo de um segundo em silencio absoluto. Em seguida a extrema pressão sonora causada pelo impacto. Ainda estavam ali, parados os dois, com suas armas a se tocarem.

No terceiro segundo, o machado gigante rachou e no que o precedeu, toda a armadura de Felipo caiu estraçalhada, deixando-o apenas com sua calça e cota de malha, que lhe cobria o tronco.

O barulho ainda era intenso. Foi no quinto segundo que a bolha estourou e parte da mureta de proteção da arena veio a baixo, em vários pontos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário