segunda-feira, 23 de maio de 2011

Contos de Altamir #18

Ano dez - Vila dos Selos, Floresta Amaldiçoada

-Mexa-se seu verme! Temos que chegar logo em Agni! - Felipo Vuur, um homem de feições duras, já odiava seu “parceiro”, parecia querer matá-lo a todo instante. Já estavam entrando no vilarejo onde antes moravam os Mestres de Selos e o outro desmontou do cavalo – Prometo que quando isso acabar vou arrancar sua cabeça e dar seus miolos aos cães – Seu cabelo negro, ensebado grudava úmido de suor no pescoço e de sua costeleta desciam gotas de suor.

– Calma lá amigo, ainda temos muita distancia na frente dos que vem ai - Romeu Kurayuki era um homem preguiçoso, sem muita pretensão de se tornar rei. Sua família o considerava muito poderoso, no entanto, ele se recusava a participar da competição que indicaria o novo rei. Só depois de muito negociar suas exigências ele aceitou participar – e aposto que os cães de Agni não vão gostar nada dos meus miolos. Acho que deveríamos descansar antes de seguir – Romeu não aparentava tanto desconforto quanto o outro, seu liso cabelo, igualmente negro, permanecia penteado, e sua postura, após aquela viajem, inalterada.

-Não sou seu amigo! – Felipo parou um instante – Vamos descansar logo depois de encontrar o amuleto.

Haviam montado a noite toda, já era meio-dia quando chegaram ao vilarejo abandonado. Um dia quente, a copa das arvores ao redor do vilarejo faziam sombra na maior parte da clareira de cem metros de diâmetro que se formava no meio da floresta onde ficava a Vila dos Selos.

A casa principal era uma construção muito maior que as demais e a única toda em madeira sólida (as outras eram em palha trançada, troncos finos e tábuas). Toda feita em madeira de boa qualidade, ficava praticamente no meio da clareira. Na frente da edificação, uma escada de três degraus e um corrimão incomum que parecia ter sido entalhado a mão, assim como os animais no topo da escada, mais ao lado, no parapeito da curta varanda (alternados entre escultura e coluna) e no telhado, esculpidos na mesma madeira fosca, de mesma cor e estado de conservação. A maioria deles não se via em Altamir há muito tempo. Da esquerda para direita, um Tritão (meio homem meio peixe) carregando um tridente, uma Serpente-Marinha com duas patas, um Dragão e uma Salamandra Vermelha. No telhado, a esquerda uma Serpe e a direita uma Toupeira-Castor gigante. Felipo e Romeu olhavam a frente da casa principal reparando em todos os detalhes da fachada:
-São animais sagrados – disse Romeu.
-São lendas mortas – respondeu o outro.

A porta estava destrancada. Eles abriram e entraram lentamente. O pergaminho estava perto da entrada, em uma mesa no centro da sala, e havia duas portas nas laterais. Romeu fez menção, porém, não se mexeu, o outro entrou, pegou o amuleto e saiu, sem prestar muita atenção no interior do lugar:
-Tem mais alguém aqui – disse Romeu.
Felipo passou por ele:
-Já temos o amuleto, vamos embora – saíram.
Sorte que um deles é um completo idiota – pensou Enric que se escondia na sala ao lado.
Ele chegou quase ao mesmo tempo dos outros dois, pelo outro lado do vilarejo. O caminho foi difícil e muito mais curto, seu cavalo estava cansado demais para fazer a viajem de volta, mas tinha chegado a tempo de pegar seu amuleto para continuar na disputa.
-Espera um pouco, você disse que íamos descansar depois de pegar o amuleto.
-Não aqui, tem algo estranho nesse lugar, e eu não gosto disso.

Assim que os dois saíram da casa, Enric respirou fundo. As maiores preocupações dele eram, ter chagado tarde demais ou resolverem levar mais de um amuleto. As duas situações seriam problemáticas, e no estado atual dele, uma luta seria trágica.

Enric sabia que deveria ir até a sala ao lado pegar o amuleto imediatamente, mas não conseguia. Seu corpo estava fraco, além do cansaço da viajem, seu braço esquerdo imobilizado de dor.
Sentou-se no chão com grande pesar e desmaiou de dor e cansaço. Horas depois acordou de súbito, sem saber se era noite ou dia. Levantou e foi até a outra sala, agora só havia mais um amuleto, ele o pegou e saiu rapidamente pelos fundos, por onde havia entrado. Seu cavalo tinha comido e descansado bastante, no fundo da casa crescia grama verde. Era noite. Ele tentou se forçar a subir no cavalo, mas foi em vão. Com muito esforço, pegou água num fosso para sua montaria, sentou-se no chão e dormiu novamente encostado no fundo da casa. Acordou e era dia, sem dor e sem saber quanto tempo havia dormido. Seu braço estava bom de novo, perfeito, depois de tanto tempo. Olhou para o amuleto na sua mão esquerda pela primeira vez. Ele era vermelho escarlate, e brilhava intensamente. Talvez aquilo significasse alguma coisa, nada que pudesse entender.

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