sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Contos de Altamir #27

Ano dez – Grande Arena de Agni

Enric levantou-se devagar. Tinha apenas um arranhão nas costas, como se algo tivesse passado raspando. Agamenon Lumbre ficou pasmo com a situação.

-Como você... Minha espada... Você... Você! – não conseguia sequer completar uma frase.

Enric bateu as mãos nos joelhos, tirando um pouco da poeira. Catou o machado do chão e virou-se para Agamenon.

-Belo golpe... Mas você cometeu um erro. Encantou sua arma com fogo, se não o tivesse feito, se estivesse apenas encantada como antes, você poderia ter até me matado. E como já pode deduzir, eu sou imune ao fogo.

-Então você conhece mesmo a habilidade dos Lumbre, e deixou que eu o atingisse só pra me mostrar que é superior – O Alvo retomou a tranqüilidade.

-Não, na verdade eu não sei usar machado. E seu golpe me acertou enquanto eu ainda me acostumava com o peso da arma – Enric jogou a arma a poucos centímetros de sua mão, fazendo ela giram em torno pro eixo do cabo. Segurou com a mão esquerda e fez dois movimentos rápidos de corte no ar, nas duas diagonais – Está pronto?

Agamenon se concentrou em sua espada e ela voltou a brilhar ao invés de emanar fogo. Enric sumiu aos seus olhos, e sem que ele notasse já estava recebendo um golpe lateral vindo cortar-lhe pela esquerda. Num súbito reflexo, ele conseguiu colocar a espada de encontro ao machado. O que não impediu que ele se projetasse no ar com a força do golpe. Novamente cairia a metros de distancia, no entanto Enric o alcançou a dez primeiros metros fazendo-o parar com um chute nas costas.

Que velocidade! – pensou Lara, quando Agamenon caiu praticamente à frente de Enric contorcendo-se de dor – Além de incrivelmente forte é inacreditavelmente rápido!

Com um olhar desapontado, Enric chutou a barriga de Agamenon. Ele rolou por quase dois metros, já sem sua espada. Enric pegou a espada do chão e andou devagar até o outro.

-Acabe a luta! – disse um dos conselheiros do sul – ele vai matá-lo!

-Não... Espere... – respondeu Levi – Veremos até onde ele vai.

Enric chegou ao lado de Agamenon e parou olhando-o caído no chão. Ele estava olhando para cima, com o olhar perdido.

-Vamos... Acabe com isso! – disse o moribundo.

-Já acabei – sussurrou o outro – A luta acabou! – Gritou olhando para os conselheiros. Levantou a espada branca que estava em sua mão na direção do peito do homem deitado, e atirou-a com força para baixo.

A platéia levantou-se de súbito com o susto.

-Exibido... – disse Akutenshi desdenhoso.

A espada entrou no espaço exato entre o braço e o tronco de Agamenon Lumbre. A multidão ao perceber isso aplaudiu e ovacionou. Enric virou-se em direção a saída.

-Enric... – o Alvo se esforçava para levantar-se – espere... – pôs-se de joelhos lentamente. Pelo canto de sua boca descia um fio de sangue. Ele tossiu e disparou um liquido espesso pouco avermelhado. A multidão silenciou – Ao novo rei – fez uma pausa, com a respiração ofegante – eu ofereço minha lealdade.

Levi levantou-se de súbito no camarote onde estava. Sabia que juramento era aquele.

-Ele ainda não é rei! – gritou de lá. Alguns perceberam até um tom de fúria.

Agamenon colocou um pé ao lado da espada e com as duas mãos segurou o pomo. Ainda com o joelho esquerdo no chão recomeçou.

-Quando eu era mais novo, meu pai me levou a Kamael, ele me disse que eu seria muito poderoso. E disse que um dia eu lutaria com um homem muito mais poderoso que eu. Um homem imune ao meu poder. O filho de um dragão. O rei de outras épocas me disse que eu não deveria me curvar a ele, que eu apenas deveria me curvar apenas ao meu verdadeiro rei, e a ele prestar o juramento de lealdade do fogo – parou um instante. Enric se virou e olharam-se nos olho – Ao filho do dragão, ofereço minha lealdade, minha espada e meu poder. A sua vitória será a minha vitória e a sua derrota a minha desonra. Eu juro pelo fogo e pelo sangue – Pôs a mão direita do peito e abaixou a cabeça. Com uma pequena fumaça saindo de seu peito, bem onde colocou a mão, ele arqueou de dor.

Enric abaixou-se e ajudou o Alvo a se levantar. A multidão levantou-se e aplaudiu de pé. Levi sentou-se aturdido, aquele era o juramento de fogo, uma espécie de maldição que ligaria para sempre o homem que o fez ao seu suserano.

No peito de Agamenon Lumbre estava gravado um circulo místico, ainda borrado pelo sangue, mas claramente já podia ser visto um dragão desenhado dentro dele.

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