domingo, 2 de janeiro de 2011

Contos de Altamir #12


Ano dez - Cidade de Agni

Como era esperado, a manhã foi longa e cansativa. Poderosos mestres de clãs mostrando suas habilidades, jovens, se esforçando ao máximo para igualar os mais experientes, e também havia um ou outro desastrado que acabava estragando sua apresentação aos conselheiros. Entre os desastrados, Dagath foi o que mais chamou atenção, com sua armadura vermelha escarlate polida exageradamente e sua capa da mesma cor com o símbolo de seu clã adornado em fio de ouro:

-Dagath Lumbre, filho de Dareagon Lumbre, e herdeiro...

Enquanto falava ergueu sua mão esquerda envolta por fogo, símbolo do poder dos Lumbre, e tocou desastrosamente a própria capa, fazendo-a em chamas em segundos. O rapaz correu desesperado ao som dos risos ao redor com a capa envolta em fogo. Rolou no chão e ali ficou de bruços por alguns instantes quando o fogo se extinguiu, com a vergonha de uma capa agora negra e fumegante a cobrir-lhe a cabeça, e sua bela armadura polida impregnada de poeira.

Passou-se o meio dia e metade da tarde. Todos tiveram sua vez, alguns arrancando suspiros da multidão que assistia e outros mal conseguiam um bocejo. Entre os dez finais haviam poucas surpresas. Quase todos os que foram antecipadamente inscritos pelos Conselheiros estavam entre os classificados, Agamenon Lumbre e Felipo Vuur, de Agni, Romeu Kurayuki, Dante e Baros Vannsart de Varuna. As únicas surpresas nessa etapa foram a desclassificação de Tirith, por ter saído antes do fim das apresentações, o fato de Dagath o desastrado ter passado e a surpreendente classificação de Lara Akuana, a única mulher foi considerada a melhor do dia, aplaudida tanto pelos de Agni quanto pelos de Varuna.

Ao fim da primeira etapa os Conselheiros chamaram as duplas, Lara faria dupla com Dagath Lumbre; Felipo Vuur o melhor de Agni, com Romeu kurayuki, o preguiçoso; Dante Vannsart com Agamenon Lumbre; Antoni Vuur, o irmão mais novo de Felipo, com Baros Vannsart; e os pouco conhecidos de clãs menores Sunny Shine de Agni com Julian Marin de Varuna.

Enquanto a multidão se conduzia ao local da segunda etapa, a Floresta dos Cinco Selos (um lugar considerado amaldiçoado, acreditavam que era habitado por criaturas sombrias com sede de sangue), os Conselheiros ficaram para traz conversando entre si, em desacordo, enquanto Levi estava numa postura irredutível, os outros dois pareciam tentar de tudo para convencê-lo. Até que um homem de manto escuro e capuz interrompeu a conversa:

-Levi - Sua voz era firme e aflita. - Preciso lhe falar – Enric o olhava com uma seriedade singular.

Puxou-o quase contra sua vontade até uma distancia suficiente pra que os outros Conselheiros não ouvissem.

-Seu velho repugnante! – disse Enric – Quem você quer matar?! Sabe o que vai acontecer se levá-los à floresta dos cinco selos em plena lua cheia!

-Isso não passa de lenda, e um senhor de minha idade não acredita mais em lendas – a segurança que um conselheiro passava com o impor de sua voz era capaz de persuadir toda uma multidão, mas não àquele homem.

-Você não pode por essas vidas em risco! – Enric apontando o dedo a Levi.

-Risco? Que risco? Você é o único risco que eu vejo aqui! Risco para todos ao seu redor! Temi que hoje você queimasse a todos como fez no dia em que retornou. E o que você fez? Nada, nem sequer mostrou que tipo de aberração você é!

Enric baixou a cabeça em lamento.

-Sabe que não foi minha culpa – agora falava suavemente – meu pai, ele... – parou, baixou seu capuz e olhou fixamente para o Conselheiro – Se quer correr o risco, pelo menos, deixe que eu vá. Deixe que eu acabe com isso.

-Você não pode. Não se classificou. E mesmo que eu acreditasse na Maldição da floresta, não lhe enviaria para lá – e Enric o interrompeu

-Sim, enviaria, sabe que sou o único que pode lhe ajudar. Mas tem medo, medo daquele que o nome não posso pronunciar. Tem medo de que eu não consiga, e ele venha atrás de você – Levi permanecia calado, com a mão esquerda tocou as costas enquanto Enric prosseguiu – Eu te devo isso, devo a Agni e devo isso ao meu pai. Deixe que eu concerte as coisas, essa é a hora.

Levi o olhou profundamente nos olhos com a mão ainda nas costas:
-Apollyon, o dragão amaldiçoado...

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