Lembranças de Levi
Há alguns anos, um jovem desapareceu, se perdeu numa floresta densa, e acreditavam que ele poderia ter morrido. Não houve tristeza nem choro, apenas a mãe do garoto parecia triste. Dois ciclos de lua cheia depois o garoto retornou, o pai bêbado foi receber o filho nos portões da cidade. Mas não havia saudade, tinha fúria nos olhos, gritava, e brandia seu machado, amaldiçoando o garoto que trazia no rosto uma cicatriz feita pelo fogo. “não é meu filho! O que faz aqui? Volte para o fogo de onde nasceu! Por todos os deuses antigos, maldito seja seu nome!” era o que ele gritava, quando o fogo varreu sua existência, de alguns que o seguia e deixando marcas em outros que por ali passavam, assim como deixou em mim. Uma ferida quase mortal, o fogo me atingiu as costas e metade do lado esquerdo. Não era fogo comum, era fogo imortal, amaldiçoado. Todos tocados por ele estão destinados a morrer pelo fogo. Pelo fogo amaldiçoado de Apollyon.
E é assim que contam a história...
Ano dez - Cidade de Agni e arredores
A Floresta dos Cinco Selos fazia fronteira com o portão sul da cidade de Agni, um local pouco habitado e ainda mais evitado depois do incidente com os Scarlet. A densa vegetação, de arvores frondosas, se estendia até o sul da ilha central, passando pela baia das flores e chegando aos pés das montanhas do sul, no extremo oeste. No meio da floresta, há muito tempo, havia uma aldeia de curandeiros, ou Mestres dos Selos, como preferiam ser chamados. As histórias dizem que os primeiros Mestres podiam remover todos os males de uma pessoa e selá-los nas arvores, mas os últimos que restaram, no fim da era de Aidlan, podiam apenas remover doenças e feridas superficiais. Apesar de terem desaparecido, a aldeia dos Mestres dos Selos parecia sempre habitada, os fornos tinham lenha, a palha das tendas sempre estava intacta, e alguns caçadores que se aventuravam por ali e acabavam passando a noite na aldeia contavam que o lugar ainda tem vida.
-Eu posso acabar com isso hoje Velho, que os deuses antigos nos ajudem– A multidão dentro da cidade esperava o inicio da segunda etapa, alguns deles sabiam da lenda do dragão da floresta, poucos sabiam que a lenda dizia que o dragão só se alimentava na lua cheia e apenas Enric acreditava realmente que isso era verdade. Dos muros de Agni até a floresta havia uma distancia quase uniforme de cem metros, e a trilha que se formava a partir do grande portão de quatro metros de largura ia se estreitando até tocar a floresta, onde era tão estreita que só passavam duas pessoas em montarias. A multidão conversava baixo, enquanto os dez competidores se preparavam. Minutos antes os Conselheiros anunciaram que Enric participaria da competição no lugar de Dagath, fazendo dupla com Lara, as reclamações foram calorosas, tendo em vista que esse era o segundo Lumbre desclassificado, entretanto a ordem foi restabelecida pelo líder dos conselheiros como era de costume.
A segunda etapa começava nos portões de Agni, cada dupla teria um pequeno amuleto e teriam que pegar mais dois na floresta, um na aldeia dos Mestres dos Selos e um no porto abandonado na baia das flores. Havia apenas três amuletos no porto e três na aldeia, então os que chegassem primeiro com os três amuletos estariam na próxima etapa, que até então era desconhecida. Poderiam levar a quantidade de suprimento que quisessem, e apenas dois cavalos. Era um trajeto que duraria a noite e todo o dia seguinte, se seguissem viajem sem parar num galope apressado, chegando ao anoitecer se nada desse errado.
Os participantes se puseram lado a lado a poucos metros do portão. Enquanto as outras quatro duplas conversavam e planejavam suas estratégias, Lara se preocupava, além de fazer dupla com alguém que foi colocado na competição de ultima hora, ele não estava na linha de largada, e segundo as regras da prova, os competidores só poderiam sair e chegar juntos. Quando foi dada a largada ela desceu de seu corcel castanho-escuro enquanto os outros partiam em disparada. Foram longos os vinte minutos que teve que esperar por Enric, e antes que ela conseguisse despejar toda sua fúria, ele passou por ela sem nem mesmo parar seu galope. Ela subiu na sua montaria e o seguiu, com toda a fúria que uma pessoa pode emanar em uma competição
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