Ano dez - Floresta dos Cinco selos (Floresta Amaldiçoada), arredores de Angi
-Não faz sentido, ele poderia ter te matado assim que soube, porque ele esperou tanto...?
-Menos de um ano – interrompeu Enric – foi o tempo que ele levou para acreditar. Foi a pior época de minha vida...
-Não entendo... Tem algo estranho... Você acabou de dizer que foi há trese anos, soube que você tem apenas vinte e seis anos – Enric apenas concordava com pequenos gestos. Desde o momento que se sentou, segurava com a mão direita seu braço esquerdo, uma região pouco acima do cotovelo – Segundo os costumes de Altamir, as crianças só podem ser iniciadas em magia aos quinze anos e em caça aos dezessete...
-Para toda regra há exceções – Enric interrompe novamente – o próprio Altamir Gilgamesh é prova disso. As lendas dizem que ele nasceu repleto por uma áurea de magia, e outras dizem que ele cresceu ensinando os mestres dos clãs. Não que eu esteja querendo me comparar ao grande Rei Centúria, mas, eu seria ingressado em magia com doze anos e em caça aos treze, de acordo com a permissão dos conselheiros. Enquanto eu crescia, meu desenvolvimento era diferente das outras crianças, Então fui levado a Kamael e seus conselheiros.
Enric fez uma longa pausa, tirou um grande pedaço de pão e um gole do vinho que trazia consigo. Lara começava a pensar que apesar de estarem perdendo muito tempo aquela história valia à pena.
-Então... Você é portador de Magia Milenar?! – Era costume Lara tirar suas próprias conclusões, e na maioria das vezes ela tinha razão.
-Talvez... – Enric falava enquanto mastigava, sua boca não estava tão cheia, mesmo assim, incomodava a moça – Acho que já falei demais sobre mim. O que tem a dizer você, Lara Akuana, se é que esse é seu nome...
-Lara... Apenas Lara... Fui criada pelos Akuana a quem chamava de tios. Nunca soube nada sobre meus pais verdadeiros.
Um silêncio cortante tomou conta do recinto. Os dois comiam se olhando o mínimo possível. Conheciam-se há tão pouco tempo, mas já sabiam grandes segredos um do outro.
Ao terminar de comer Lara já arrumava suas coisas de volta no cavalo enquanto Enric permanecia sentado ainda segurando seu braço esquerdo.
-Vamos, não podemos perder mais tempo – disse ela.
-Sim, você está certa – levantou-se dolorosamente.
-O que há com seu braço?
-Não é nada... Posso viver com isso...
-Deixe-me ver – Lara puxou o braço pela manga do manto, que descia até a mão, uma linha grossa diferente do que via em Varuna. Notou primeiro que era maior que a manga direita, só depois percebeu o urro de dor.
Arregaçou a manga com uma mínima interferência dele. Ele parecia sem forças, suando a ponto de umedecer todo o braço. Pouco acima do cotovelo, Enric tinha uma marca vermelha incandescente. Ela se espantou ao ver, parecia queimar-lhe o braço.
-Que diabos é isso?! – soltou o braço, mas não se distanciou
-Já disse, não é nada, posso continuar a viajem assim, sem ir pela trilha principal ainda posso chegar à aldeia antes dos outros.
-Mas você não está em condições, mal consegue se levantar!
-Então me ajude a montar! – Enric teria que esquecer sua honra, aceitar a ajuda de uma mulher para montar em seu próprio cavalo. Ela o olhava assustada – Você não quer ser rainha?! Esse é o preço! – ofegante e suando exageradamente, ele não parecia em plena sanidade, talvez, foi esse o motivo dela o ter ajudado a subir no cavalo.
-Me espere aqui quando chegar, não saia dessa caverna por nada! – saiu em disparada sem maiores explicações.