Ano Dez - Cidade de Agni
No inicio do décimo ano da era Kamael apenas a ilha central não tinha rei, os dois tronos estavam vazios, fato que incomodava a população, em especial aos nobres. Certamente, alguns clãs planejavam reivindicar a coroa para si e os sábios conselheiros sabiam disso. Sabiam que a situação era instável e que a qualquer momento poderia se desencadear uma guerra pelo trono.
Como era de costume, em Agni, na primeira lua cheia do ano, havia uma festa em homenagem a Altamir Gilgamesh, os festejos aconteciam à noite na praça principal da cidade, que ficava em frente ao castelo de Kamael e duravam pouco menos de uma semana. Muitas pessoas de Varuna vinham participar. Era considerada por todos daquela ilha a festa mais esperada do ano, havia bebida e comida farta, muita música, cantoria e dança. Muitos contos antigos eram relembrados naquelas festas, em forma de músicas. Histórias antigas sobre famílias guerreiras que juntas combatiam invasores ou de heróis que derrotavam monstros eram contadas através das vozes em coro, era uma forma de relembrar os grandes feitos dos antepassados guerreiros. Contos em Cantos, como chamavam. Havia muitos Cantos sobre os feitos de Altamir, esses eram os mais ouvidos durante toda a festa.
No terceiro dia, os três sábios responsáveis pela ilha central se pronunciaram antes do inicio da festa. O principal entre eles foi quem falou, foi breve, direto e ao mesmo tempo inconclusivo.
-Ao inicio da próxima lua cheia haverá uma nova festa, e terá inicio uma competição, onde dos participantes será escolhido o rei da cidade Varuna e o de Agni. Todos os que são de família nobre poderão participar, e terão que se apresentar aqui, na frente do castelo de Kamael ao amanhecer após a primeira lua cheia.
Como todos já sabiam, haveria dois reis na ilha central, um em cada cidade principal, e ambos seriam escolhidos pelos conselheiros. Diferente das outras cidades, nessas duas o trono seria disputado, isso gerou inúmeros comentários dos ali presentes. De fato, esse foi o assunto mais comentado dos dias que se seguiram, tanto a noite na festa, quando de dia, na ressaca.
Após os dias de festa os moradores de Varuna voltaram às suas casas levando essa noticia a sua cidade. Em pouco tempo todos em ambas as cidades sabiam da decisão dos conselheiros.
A notícia de que os clãs teriam que competir pelo trono pareceu animadora aos nobres de Agni, o palpite da maioria fazia menção a uma competição armada, de luta, ou de magia, afinal, aquele era um povo guerreiro, nascido para batalha, com corações repletos de fogo, que era o principal símbolo dos clãs da cidade. Por outro lado, em Varuna, achava-se que seria uma competição intelectual, onde o mais sábio seria conhecido, certamente os Clãs da cidade estariam preparados para uma situação onde seus intelectos fossem colocados a prova, assim como os de Agni estavam preparados para uma batalha armada. No entanto, é incorreto afirmar que os nobres em Agni eram ignorantes e grotescos, havia muitos sábios entre eles, assim como também não havia apenas magricelas indefesos nos castelos de Varuna, na verdade, a maioria dos nobres dessa cidade eram assaz habilidosos em batalha, especialmente em magia.
A ansiedade aumentava pelas ruas de ambas as cidades, os preparativos começavam, alguns treinavam, outros estudavam e assim, acreditavam estar se preparando para ser o próximo rei.
domingo, 26 de setembro de 2010
terça-feira, 14 de setembro de 2010
Contos de Altamir #7
Ano oito - Cidade de Vayu
Ela não parecia fazer parte de alguma família nobre, estava mal vestida e suja, porém, apesar de ser uma criança simples da população, seu andar era suave como o de um Vindlys, e a atenção que Akutenshi dava a ela era incomum. A garota não estava sorrindo, mas sua face transparecia alegria.
Akutenshi falava algo a ela em voz baixa, nem Gildor podia escutar, daí a alguns passos ele olhou fixamente a porta de uma casa a esquerda da rua, ao lado que a garota seguia. Era uma casa humilde, e tinha um pequeno cercado na frente onde criavam galinhas, o portão da casa também era simples, de madeira. Dali saiu depressa uma mulher de cabelos castanhos, que ao passar rapidamente pelo portão disse em voz alta o que ao mesmo tempo Akutenshi disse num tom brando:
-Alicia! – Antão ao ver que sua filha estava acompanhada do rei de Vayu, ela parou e se inclinou reverenciando-o.
-Perdão meu senhor, ela não costuma incomodar ninguém assim, prometo lhe não lhe atormentará mais...
-De forma alguma – respondeu prontamente – Há algum tempo que procuro por essa garota, logo explicarei o porquê à senhora. Ainda hoje, traga sua família para um banquete no meu castelo, e se for possível, quero que venham morar conosco, junto com os Vindlys, sua filha será de grande importância para Vayu, acredito que ela também já sabe disso, então, eu preciso começar a ensiná-la quanto antes.
-Mas... Senhor... Nós não temos sangue nobre... Como poderíamos viver entre um clã tão poderoso?! – Ela contestava ainda relutante e desentendida do que acontecia ali.
-Tudo que precisa saber é que a partir de hoje serão chamados Vindlys, você e os que morarem em sua casa.
-Se essa e a sua vontade, que seja feita – e abaixou a cabeça respeitosamente.
-Ao anoitecer estarei esperando na porta do castelo – e com um último sorriso virou-se e se despediu
Alicia tinha uma irmã com pouco mais de dois anos, seu pai havia morrido há menos de uma semana, era um simples mercador, as três passariam sérias dificuldades depois da morte do pai, a mudança para o castelo lhes parecia providencial.
Naquela noite foi celebrada uma grande festa para Alicia, um banquete onde todos os Vindlys presentes na cidade fizeram questão de aparecer, a mãe não parecia entender o motivo no inicio, só depois percebeu, sua filha era realmente especial para eles.
Ela não parecia fazer parte de alguma família nobre, estava mal vestida e suja, porém, apesar de ser uma criança simples da população, seu andar era suave como o de um Vindlys, e a atenção que Akutenshi dava a ela era incomum. A garota não estava sorrindo, mas sua face transparecia alegria.
Akutenshi falava algo a ela em voz baixa, nem Gildor podia escutar, daí a alguns passos ele olhou fixamente a porta de uma casa a esquerda da rua, ao lado que a garota seguia. Era uma casa humilde, e tinha um pequeno cercado na frente onde criavam galinhas, o portão da casa também era simples, de madeira. Dali saiu depressa uma mulher de cabelos castanhos, que ao passar rapidamente pelo portão disse em voz alta o que ao mesmo tempo Akutenshi disse num tom brando:
-Alicia! – Antão ao ver que sua filha estava acompanhada do rei de Vayu, ela parou e se inclinou reverenciando-o.
-Perdão meu senhor, ela não costuma incomodar ninguém assim, prometo lhe não lhe atormentará mais...
-De forma alguma – respondeu prontamente – Há algum tempo que procuro por essa garota, logo explicarei o porquê à senhora. Ainda hoje, traga sua família para um banquete no meu castelo, e se for possível, quero que venham morar conosco, junto com os Vindlys, sua filha será de grande importância para Vayu, acredito que ela também já sabe disso, então, eu preciso começar a ensiná-la quanto antes.
-Mas... Senhor... Nós não temos sangue nobre... Como poderíamos viver entre um clã tão poderoso?! – Ela contestava ainda relutante e desentendida do que acontecia ali.
-Tudo que precisa saber é que a partir de hoje serão chamados Vindlys, você e os que morarem em sua casa.
-Se essa e a sua vontade, que seja feita – e abaixou a cabeça respeitosamente.
-Ao anoitecer estarei esperando na porta do castelo – e com um último sorriso virou-se e se despediu
Alicia tinha uma irmã com pouco mais de dois anos, seu pai havia morrido há menos de uma semana, era um simples mercador, as três passariam sérias dificuldades depois da morte do pai, a mudança para o castelo lhes parecia providencial.
Naquela noite foi celebrada uma grande festa para Alicia, um banquete onde todos os Vindlys presentes na cidade fizeram questão de aparecer, a mãe não parecia entender o motivo no inicio, só depois percebeu, sua filha era realmente especial para eles.
domingo, 5 de setembro de 2010
Contos de Altamir #6
Ano oito - Cidade de Vayu e arredores
-Corram seus tolos, salvem suas vidas...
Foram as ultimas palavras que ele pronunciou, Anolian Ono caiu. Os dois seguidores dele não podiam se mover, o medo travava suas pernas.
Akutenshi ainda segurava a mão direita de Anolian enquanto ele já estava no chão, seu semblante transparecia lamento. Houve silencio durante alguns segundos, logo depois o rei olhou para os que ainda estavam ali, e soltando a mão do falecido disse:
-Que fim lamentável ele teve, poderia ter sido muito útil a Vayu – nesse momento ele já não parecia tão triste, seu olhar plácido estava de volta.
-Vão! Não vejo más intenções em vocês. E avisem aos Ono sobre o fim que leva aqueles que me desafiam.
Virando-se ao seu caminho disse:
-Levem este corpo daqui e o queimem dignamente, morreu aqui um grande guerreiro – era costume naquela época queimar os corpos dos mortos como uma ultima homenagem a vida que tiveram.
Akutenshi saiu andando, primeiro lentamente, mas logo correu para alcançar seu discípulo. Ele quase foi atingido naquela luta, aquele realmente era um ótimo guerreiro, o melhor dos Ono, este foi o homem que chegou mais perto de matá-lo até o presente momento. Anolian sabia que Akutenshi não tinha intenção de matá-lo, mesmo sabendo que três dos seus seguidores haviam morrido. Em seu ultimo golpe Anolian só deixou duas alternativas para o rei, um deles iria morrer, a curva de trajeto do desferido impedia que Akutenshi se desviasse sem sofrer danos, afinal, ele estava sendo segurado. Então, a única alternativa de Akutenshi foi mudar a direção da espada, de seu próprio peito, para o peito do seu adversário. E ele o fez apenas com sua mão esquerda, aquela arma banhada em veneno penetrou dilacerando a carne de Anolian, a morte era certa, e mesmo que não o houvesse acertado tão profundamente a toxina contida naquela lamina o mataria em poucas horas. Anolian morreu pela sua própria arma, isso certamente não iria atenuar a oposição dos outros clãs, porém, o fato dele ter poupado duas vidas de rebeldes mostrava que ele era um rei piedoso.
-Como esperado do rei de Vayu – disse Gildor ao perceber que seu rei se aproximava.
Já estava agora quase dentro da cidade, no início do vale, num lugar onde já havia moradores. O rei e seu pupilo já se sentiam em casa, o aroma aconchegante do lar pairava e o alívio por saber que seu mestre havia sobrevivido àquela emboscada fez Gildor sorrir por um instante.
-Todos eles morreram senhor? – disse Gildor com uma certa empolgação.
-Dois deles foram poupados – disse Akutenshi, e prosseguiu - Não é conveniente comemorar mortes, não estamos em guerra, e mortes são sempre tristes – e fez uma breve pausa suspirando e declinando sua cabeça – mesmo numa guerra.
-No entanto, nem todos os males são lastimáveis – Disse ele erguendo novamente seu rosto.
-Eu gostaria de ter o visto derrotando aqueles atrevidos com suas habilidades.
-Não cheguei a usar magia na luta, se é isso que queria ver... – e sorriu.
Continuaram conversando e caminhando lado a lado até entrar pelos portões da cidade, dali seguia uma rua larga onde até cinco homens poderiam passar ao mesmo tempo e as pessoas cumprimentavam seu rei ao vê-lo. As crianças interrompiam o que estavam fazendo para admirá-lo mais de perto e acenar se ele olhasse.
Sem motivo aparente, uma garota que aparentava cerca de dez anos, de cabelos castanhos e olhos languidos que brincava a beira da estrada com uma boneca, se levantou, fixou os olhos no rei, e tendo seu olhar retribuído, deixou seu brinquedo no chão e foi ao encontro dele. Não era igual às outras crianças que apenas viam um poderoso rei passar por sua rua e acenavam com admiração e respeito, apesar de ser pequena e de aparência frágil, não parecia temer o poder de Akutenshi. Ela não tirava os olhos do rei, e seu sorriso acanhado e infantil se aproximava dele. Ao alcançá-lo, ficou ao seu lado esquerdo e seguiu seu ritmo sem dizer nada.
Akutenshi pôs a mão em sua cabeça acariciando-lhe o cabelo como se faz a um filho:
-Você me encontrou – Disse-lhe sorrindo – Não achei que seria tão cedo.
-Corram seus tolos, salvem suas vidas...
Foram as ultimas palavras que ele pronunciou, Anolian Ono caiu. Os dois seguidores dele não podiam se mover, o medo travava suas pernas.
Akutenshi ainda segurava a mão direita de Anolian enquanto ele já estava no chão, seu semblante transparecia lamento. Houve silencio durante alguns segundos, logo depois o rei olhou para os que ainda estavam ali, e soltando a mão do falecido disse:
-Que fim lamentável ele teve, poderia ter sido muito útil a Vayu – nesse momento ele já não parecia tão triste, seu olhar plácido estava de volta.
-Vão! Não vejo más intenções em vocês. E avisem aos Ono sobre o fim que leva aqueles que me desafiam.
Virando-se ao seu caminho disse:
-Levem este corpo daqui e o queimem dignamente, morreu aqui um grande guerreiro – era costume naquela época queimar os corpos dos mortos como uma ultima homenagem a vida que tiveram.
Akutenshi saiu andando, primeiro lentamente, mas logo correu para alcançar seu discípulo. Ele quase foi atingido naquela luta, aquele realmente era um ótimo guerreiro, o melhor dos Ono, este foi o homem que chegou mais perto de matá-lo até o presente momento. Anolian sabia que Akutenshi não tinha intenção de matá-lo, mesmo sabendo que três dos seus seguidores haviam morrido. Em seu ultimo golpe Anolian só deixou duas alternativas para o rei, um deles iria morrer, a curva de trajeto do desferido impedia que Akutenshi se desviasse sem sofrer danos, afinal, ele estava sendo segurado. Então, a única alternativa de Akutenshi foi mudar a direção da espada, de seu próprio peito, para o peito do seu adversário. E ele o fez apenas com sua mão esquerda, aquela arma banhada em veneno penetrou dilacerando a carne de Anolian, a morte era certa, e mesmo que não o houvesse acertado tão profundamente a toxina contida naquela lamina o mataria em poucas horas. Anolian morreu pela sua própria arma, isso certamente não iria atenuar a oposição dos outros clãs, porém, o fato dele ter poupado duas vidas de rebeldes mostrava que ele era um rei piedoso.
-Como esperado do rei de Vayu – disse Gildor ao perceber que seu rei se aproximava.
Já estava agora quase dentro da cidade, no início do vale, num lugar onde já havia moradores. O rei e seu pupilo já se sentiam em casa, o aroma aconchegante do lar pairava e o alívio por saber que seu mestre havia sobrevivido àquela emboscada fez Gildor sorrir por um instante.
-Todos eles morreram senhor? – disse Gildor com uma certa empolgação.
-Dois deles foram poupados – disse Akutenshi, e prosseguiu - Não é conveniente comemorar mortes, não estamos em guerra, e mortes são sempre tristes – e fez uma breve pausa suspirando e declinando sua cabeça – mesmo numa guerra.
-No entanto, nem todos os males são lastimáveis – Disse ele erguendo novamente seu rosto.
-Eu gostaria de ter o visto derrotando aqueles atrevidos com suas habilidades.
-Não cheguei a usar magia na luta, se é isso que queria ver... – e sorriu.
Continuaram conversando e caminhando lado a lado até entrar pelos portões da cidade, dali seguia uma rua larga onde até cinco homens poderiam passar ao mesmo tempo e as pessoas cumprimentavam seu rei ao vê-lo. As crianças interrompiam o que estavam fazendo para admirá-lo mais de perto e acenar se ele olhasse.
Sem motivo aparente, uma garota que aparentava cerca de dez anos, de cabelos castanhos e olhos languidos que brincava a beira da estrada com uma boneca, se levantou, fixou os olhos no rei, e tendo seu olhar retribuído, deixou seu brinquedo no chão e foi ao encontro dele. Não era igual às outras crianças que apenas viam um poderoso rei passar por sua rua e acenavam com admiração e respeito, apesar de ser pequena e de aparência frágil, não parecia temer o poder de Akutenshi. Ela não tirava os olhos do rei, e seu sorriso acanhado e infantil se aproximava dele. Ao alcançá-lo, ficou ao seu lado esquerdo e seguiu seu ritmo sem dizer nada.
Akutenshi pôs a mão em sua cabeça acariciando-lhe o cabelo como se faz a um filho:
-Você me encontrou – Disse-lhe sorrindo – Não achei que seria tão cedo.
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